domingo, 24 de junho de 2012

A difícil arte de Escrever


A escrita também é uma arte. Ganymedes José, no livro “A difícil arte de escrever fácil”, Editora do Brasil, compartilha do mesmo ponto de vista de Graciliano Ramos, conforme o texto bastante sucinto e sugestivo que vamos ler agora. Em seguida, ampliamos o assunto sob o enfoque da escrita praticada por blogueiros.

C
omo escrever, segundo Graciliano Ramos

“Quem escreve deve ter todo cuidado para a coisa não sair molhada. Quero dizer que da página que foi escrita não deve pingar nenhuma palavra, a não ser as desnecessárias. É como pano lavado que se estira no varal. Naquela maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício.

Elas começam com uma primeira lava. Molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Depois colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão.

Depois batem o pano na laje ou na pedra limpa e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar.

Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso, a palavra foi feita para dizer”.

Fonte:


A
 difícil arte de escrever em blogs
In Blogosfera, In Sentimentos



Quem redige seus textos constantemente tem a exata noção do quanto é difícil manter a periodicidade e a qualidade dos posts. Com o tempo, todos nós passamos pela estranha sensação de estar caindo no marasmo repetitivo de temas, com assuntos que já foram amplamente dissecados por muitos.

Manter a periodicidade e a qualidade dos posts exige um esforço sobre-humano para todo blogueiro que assumiu essa responsabilidade perante seus leitores. Penso que todos os blogueiros devem passar pelo dilema de, a cada novo post, ver aumentada a responsabilidade com a qualidade do conteúdo publicado.

As palavras faladas têm uma vida mais efêmera e um raio de ação menor. No entanto, têm um vigor maior, estão no presente. A palavra escrita ganha mais espaço e durabilidade no tempo. No entanto, perde significado na medida em que se afasta do ato. Poucas leis antigas têm validade duradoura. Escrever sobre o dia-a-dia é um exemplo marcante da perda de significado. É como o jornal de ontem. Escrever com conteúdo duradouro é bem mais difícil. Mas o mais triste é que uma grande maioria cada vez lê menos. E dos poucos que leem, ainda existe nas ofertas a parafernália do inútil. Mas em todo o caso, devemos ter esperança que cresçam as ofertas de escritos de valor. [Vladimir D. Dias]

Já disse que existem por aí uma infinidade de blogs dos mais variados nichos. Uma coisa que sempre me chama a atenção em um blog é a qualidade da escrita. O assunto pode ser algo que não me atrai em nada, mas se estiver bem redigido, ganha logo minha admiração e respeito. […]

Como se fosse fácil escrever. Se fosse assim: eu sento, com calma e tempo, e digito palavras, que escapam ordenadamente dos meus dedos. Sento então, e tento. Saem, contudo, idéias desordenadas, em frases feias e feitas. Faltou sempre, e faltará, uma capacidade natural para a comunicação agradável, composta por um texto fluente e lógico. Morro, e antes não escreverei bem. [Eduardo Carvalho]

Meu martírio se parece muito com o que bem descreveu o Eduardo Carvalho na citação supramencionada, sobretudo na última frase: “Morro, e antes não escreverei bem”. Quando leio um post bem redigido em algum blog, logo tenho delírios de inveja (inveja boa, é claro), por não conseguir articular as palavras como aquele autor o fez. Fico intrigado: como pode essa pessoa escrever tão bem? De onde ela tira tanta inspiração? […]

O ato de escrever que para alguns parece fácil e agradável, para outros representa um "parto" sem perspectivas favoráveis. Normalmente, nas produções de textos escolares, não se prepara o aluno para ser escritor. Muitas vezes, não se prepara nem para escrever satisfatoriamente numa linguagem que revele precisão vocabular e clareza de ideias. [Rogério Bauru]

O que aplaca um pouco minha angústia é saber que até mesmo escritores famosos, que todos pensamos serem fontes inesgotáveis de inspiração, também passam por dilemas semelhantes. Guardadas as devidas proporções, vejam o que diz alguns escritores de renome sobre o ato de escrever:

“Para mim, o ato de escrever é muito difícil e penoso, tenho sempre de corrigir e reescrever várias vezes. Basta dizer, como exemplo, que escrevi 1100 páginas datilografadas para fazer um romance no qual aproveitei pouco mais de 300.”  [Fernando Sabino]

“Escrever é um trabalho duro. Uma frase clara não sai por acidente e poucas saem na primeira, na segunda ou mesmo terceira tentativa. Lembre-se disso como consolo nos momentos de desespero.” (William Zinsser, escritor norte-americano)

Como todos puderam ver, a arte de escrever não é uma tarefa fácil nem mesmo para aqueles que vivem exclusivamente dela. Penso que a exigência constante com a qualidade faz parte do processo de criação. A partir do momento que nos considerarmos suficientemente capacitados e bons, na verdade estaremos em franca decadência.

Quem prima pela qualidade nunca se contenta em escrever algo simplesmente para cumprir o compromisso assumido, quer buscar a excelência mesmo nos posts mais simples.  Aliás, a tônica deve ser buscar sempre a perfeição, mesmo sabendo que ela nunca será alcançada.

Ademais, é sempre bom lembrar que estamos sempre sendo julgados, como bem frisou Taciana Valença: “existe um “sábio” tribunal de leitores que nos leem para criticarem depois ou tentar nos conhecer através do que escrevemos”.

Fonte:

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