terça-feira, 15 de setembro de 2009

Artigo: Repensando a Educação Infantil

O artigo “Repensando a Educação Infantil” apresenta uma trajetória desde os primórdios, abordando o conceito e reconhecimento da infância até os dias atuais nas pré-escolas e centros infantis, sendo que nesse longo período constata-se a formulação de princípios educacionais que permanecem até hoje, onde a verdadeira finalidade da educação se resume em ensinar a criança a viver e aprender a exercer a liberdade. Além disso, formar através do entendimento das concepções pedagógicas a compreensão do cuidar e educar a criança sendo dela um direito, preparando a para o processo de alfabetização, utilizando os fundamentos teóricos da proposta para estabelecer as diretrizes do trabalho com os pequenos e que através das tendências pedagógicas aqui observadas possa ser identificado as características de cada um que predominam até os dias atuais. Diante disto percebe-se a crescente valorização da infância, muito se fez, porém muito ainda existe por fazer, objetiva-se que através do artigo aqui exposto possa haver contribuição para o pensar e repensar dos profissionais da educação no tocante a oferta de uma educação de qualidade e o seu papel neste contexto.

Palavras chave: 1. Educação Infantil; 2. Trajetória da Infância; 3. Educador Infantil.


1. INTRODUÇÃO


Durante a Idade Medieval a infância era desconhecida, muitas crianças morriam e as que sobreviviam, somente eram valorizadas quando adultos, momento este em que passavam a ser consideradas como “pessoas”. A “virada de página” se dá a partir do final do século XVII e início do século XVIII, com a transformação na sociedade da burguesia com a Revolução Industrial, é nesse contexto que surgem as instituições para atender às crianças trazendo consigo as concepções sobre a Educação Infantil e suas características, o entendimento sobre a infância e as possibilidades de se construir espaços nos quais a criança é o principal agente no processo pedagógico.
A educação infantil deve ser entendida não simplesmente como um espaço onde os pais, para trabalharem, deixam seus filhos para serem cuidados, mas para, além disso: um espaço de brincadeira, de aprendizado, de desenvolvimento do conhecimento.
É de vital importância refletir sobre a realidade da infância e a relação dela com a comunidade a qual estamos inseridos.


2. REPENSANDO A EDUCAÇÃO INFANTIL
Para pensar e repensar a educação infantil, faz-se necessário uma incursão na história da infância.

(...) Portanto, as referências nos indicam que vínculos foram estabelecidos, pois seria improvável que os adultos ficassem tanto séculos entorpecidos sem manifestarem qualquer sentimento pelas crianças. (LOSSNITZ, 2006, p. 12)
Ao lado da evolução da família e do desenvolvimento do sentimento de “domesticação” no período entre o final da Idade Média e o final do século XVIII, a criança passou a ser vista de forma diferente, ou seja, não mais como um adulto em miniatura. Lossnitz em sua dissertação “O Primeiro Jardim de Infância no Brasil, Emília Ericksen”, 2006 afirma:

(...) As primeiras mudanças ocorreram nas atitudes em relação às crianças que inicialmente eram educadas a partir de aprendizagens adquiridas junto aos adultos e aos sete anos, a responsabilidade pela educação era atribuída à outra família... O surgimento do conceito de infância provocou mudanças no quadro educacional. (LOSSNITZ, 2006, p. 2)
Entende-se que neste período essa identidade da criança esta definida pelo não-sentimento de infância, o que não quer dizer que não havia afeto pelas crianças, mas sim que não havia uma consciência da particularidade infantil, ou seja, não se distinguia a criança do adulto.

A partir do surgimento das creches descobrem-se referenciais importantes na Educação Infantil.

(...) a escola de principiantes ou escola de tricotar... A escola infantil... Jardim de infância... Casa das crianças. (KUHLMAN, Junior, pg.01)

Todos esses programas tiveram um impacto importante no campo da educação para a criança pequena, surgindo assim concepções de Educação Infantil, sendo a primeira uma concepção de assistencialismo que enfatizava somente o cuidar, não considerando o educar a criança. Adiante se percebeu a necessidade de valorizar a evolução natural da criança. Como destaca KUHLMAN Jr.(2009, pg. 04), que Froebel denominou os jogos as ocupações dos jardins de infância, valorizando o brincar educativo. Houve a fase de se compensar as deficiências das crianças, considerando que a pobreza e a falta de estímulo, entre outros, são os causadores do desinteresse escolar. Assim são desenvolvidos programas visando que as creches se preocupem com a aprendizagem e com o desenvolvimento de atividades educativas através das brincadeiras. Quanto à concepção preparatória, sua função primordial era preparar as crianças para o processo de alfabetização buscando desenvolver suas habilidades. Referente à concepção global percebeu-se na criança o seu desenvolvimento com a harmonia dos aspectos psicomotores, cognitivos, afetivos. E por ultimo desenvolveu-se a concepção pedagógica visando o favorecimento do processo de alfabetização realizando um trabalho sistematizado levando em consideração as dificuldades apresentadas
A Educação Infantil começa a se direcionar através de suas concepções já citadas, percebeu-se então a necessidade de se fundamentar uma proposta pedagógica bem embasada nas áreas do conhecimento sendo elas: na história, na sociologia, na psicologia e na antropologia.

(...) a fim de que essa função se efetive na prática, o trabalho pedagógico precisa se orientar por uma visão das crianças como seres sociais, indivíduos que vivem em sociedade, cidadãs e cidadãos. (KRAMER, Sonia. 2000 pg. 19)


No que concerne a sociologia a escola deve ter seu papel muito bem definido para se trabalhar com crianças de características diferentes, que apresentam muita das vezes conflitos, valorizando-as para que se tornem pessoas com autonomia de decisões e opiniões, cooperativas e solidárias.
Considerando o contexto social e cultural em que a criança esta inserida a base da antropologia indica ao professor que cada criança possui uma identidade, uma história de vida, que todos somos diferentes e também da importância de se estreitar o relacionamento da escola com seus familiares num continuo processo de adaptação dos educadores.
Importante destacar ainda, que a meta primordial da educação infantil voltada para a cidadania, se desenvolveu atrelada nas tendências pedagógicas sendo elas: romântica, cognitiva e crítica.
A primeira favorece o desenvolvimento natural da criança, Froebel, Decroly e Montessori contribuíram muito com a educação, sendo naquela época um avanço nos estudos.
A segunda é onde destacamos Piaget na formação de homens criativos, inventivos e descobridores. E por ultimo e nem por isso menos importante destacamos a tendência critica, onde se defende que a educação sofra profundas mudanças em sua base (professores). Centrada na criança que faz parte de uma sociedade
O atendimento as crianças de zero a seis anos em instituições especializadas tem origem com as mudanças sociais e econômicas, causadas pela Revolução Industrial no mundo todo, inclusive no Brasil sob influência de Froebel, Emília Ericksen funda o primeiro Jardim de Infância em 1862. Neste momento as mulheres deixaram seus lares para entrarem no mercado de trabalho. Atrelado a esse fato, sob pressão dos trabalhadores urbanos que viam nas creches um direito por melhores condições de vida deu-se inicio ao atendimento da Educação Infantil no Brasil.
Emilia Ericksen fez cursos de como educar as filhas, cursos estes ministrados por Froebel no período em que viveu na Dinamarca, não tinha intenção de lecionar, mas segundo Lima (2008, em A Educação Infantil em Telêmaco Borba: uma história em construção), quando retornou ao Brasil residindo no município de Castro no Paraná, devido ao naufrágio ocorrido em 1844, Emília buscou no magistério um amparo econômico para sua família que se encontrava em crise. Seus trabalhos foram de grande importância para a Educação Infantil no Brasil.
A partir da década de 1970 os movimentos pelos direitos humanos se intensificam, e é na Constituição de 1988 que a criança passa a ser vista com direitos, sendo um marco na história da Educação Infantil.

(...) Essa educação se dá na família, na comunidade e nas instituições, de Educação Infantil vem se tornando, cada vez mais necessárias, como complementares à ação da família, o que já foi afirmado pelo mais importante documento internacional de educação deste século, a Declaração Mundial de Educação para todos. (JOMTIEN, Tailândia, 1990).
No Brasil a primeira Lei de Diretrizes e bases foi a LDB nº 4024/61 que não se preocupou com a Educação Infantil, a segunda foi a LDB nº 5692/71, porém nada foi tratado referente à Educação Infantil, somente com a LDB 8069/90, ECA, as crianças passam a ter os mesmos patamares de direitos, e é a LDB 9394/96 que estabelece pela primeira vez na história do país que a Educação Infantil é a primeira etapa da educação básica.

Percebe-se assim o quanto a Educação Infantil é de grande importância para o desenvolvimento da personalidade e mesmo não sendo obrigatória é de suma necessidade no crescimento da criança, pois é ela que irá proporcionar as bases necessárias para um adulto sensato e feliz.
Considera-se, que um dos fatores que mais contribuem para que tudo isso ocorra é o cumprimento de tais leis porque é ela quem embasa todos esses objetivos e metas que são os de fornecer infra-estrutura para o funcionamento adequado das instituições de educação (sendo elas, CEMEI’s, pré-escolas, escolas públicas ou privadas). Formação dos profissionais de educação ofertando cursos de formação de nível superior para professores de educação infantil. Normas e projetos pedagógicos, garantir alimentação escolar e materiais pedagógicos, implantar conselhos escolares para obter participação da comunidade, assim devemos observar e cobrar o cumprimento de tais leis.
É na Educação Infantil que a criança adquire os primeiros preparos para o convívio social, tem as primeiras noções de valores morais e também através de atividades aprimora suas capacidades cognitivas e motoras.
Um longo caminho foi percorrido, percebeu-se que a criança existia, porém nos dias atuais,apesar de todo o amparo legal, a visão de infância não se difere daquela de outrora onde a criança não fazia parte das relações sociais, ou seja, não era considerada como um cidadão, porém ainda hoje pode-se constatar diferentes visões de infâncias e até a recusa de se reconhecer a criança esse direito, como exemplos pode-se citar a da criança de classe média e classe alta que estuda e recebe apoio para desenvolver-se, em contrapartida estão as crianças que trabalham desde muito pequenas para ajudar na renda familiar, da criança que fica nas ruas pedindo esmolas e se iniciando na vida de crimes. É fundamental que se tenha consciência dessas diferenças para conhecer melhor as crianças que convivem no âmbito escolar e para ter conhecimento das responsabilidades dos educadores que atuam com esta demanda.
Faz-se necessário que os profissionais da educação repensem sua prática, ciente de suas responsabilidades, influências sobre o meio social conhecendo o que é fundamental para que a criança aprenda e que os primeiros anos de contato com a Educação Infantil é primordial para a formação do caráter de se aluno.
As propostas educacionais hora vigentes, devem ser repensadas, pois as crianças em contato com profissionais competentes os resultados serão bem mais compensatórios, facilitando e muito na aquisição do saber.
Precisamos pensar nas famílias de hoje, sem estrutura alguma, não possuem as mínimas condições, seja econômica ou cultural, para educar seus filhos o que resta é a esperança de os educadores irão contribuir e muito para se evitar quem sabe no futuro males como as drogas e violência.
Outra questão que deve ser revista é a legislativa, tornando quem sabe a Educação Infantil obrigatória e formando e aperfeiçoando constantemente dos profissionais da educação.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

. KUHLMANN, Junior Moyses. Trajetórias das Concepções de Educação Infantil. Disponível em: www.omep.org.br/artigos/palestras/05.pdf. Acesso em: 03 de fevereiro 2009.
. KRAMER, Sonia. Com a pré-escola nas mãos. São Paulo: Ática, 2000.
. LIMA, Sandra Vaz. A Educação Infantil em Telêmaco Borba: Uma história em Construção. Telêmaco Borba. 2008.
. LOSSNITZ, Gislene. O Primeiro Jardim de Infância no Brasil: Emilia Ericksen. Ponta Grossa, 2006.

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