terça-feira, 19 de abril de 2011

MICHEL DE MONTAIGNE – ATIVIDADE AVALIATIVA “8”

Michel de Montaigne, o investigador de si mesmo


Interiorizar-se, duvidar e entrar em contato com outros costumes e pontos de vista são as recomendações do filósofo francês para uma boa formação

O período histórico da Renascença estava em sua última fase quando o escritor francês Michel de Montaigne (1533-1592) chegou à vida adulta. O otimismo e a confiança nas possibilidades humanas já não eram os mesmos e a Europa se desestabilizava em conseqüência dos conflitos entre católicos e protestantes. Esse ambiente refletiu-se na produção do filósofo, marcada pela dúvida e pelo ceticismo. Seus Ensaios são leitura de cabeceira de um grande número de intelectuais contemporâneos, entre eles Claude Lévi-Strauss, Edgar Morin e Harold Bloom.



A obra, originalmente em três volumes, é, a rigor, a única de Montaigne – mais alguns escritos pessoais foram publicados depois de sua morte – e inaugurou um gênero literário. A palavra "ensaio" passou desde então a designar textos em torno de um assunto que vai sendo explorado por meio de tentativas (esse é o significado da palavra essais em francês), mas sem rigores de método. Muitas vezes, não chegam a nenhuma conclusão definitiva, mas convidam o leitor a considerar alguns pontos de vista. No caso de Montaigne, o gênero serve à perfeição ao propósito de contestar certezas absolutas.



Dois dos Ensaios tratam especificamente de educação: Do Pedantismo e Da Educação das Crianças. Neles está claro que o autor pertencia a uma classe emergente, a burguesia, e que se rebelava contra certos padrões de erudição e exibicionismo intelectual ligados à aristocracia. Montaigne assumia também o papel de crítico tanto dos excessos de abstração da filosofia escolástica da Idade Média – que ainda sobrevivia nas universidades – quanto da cultura livresca do humanismo renascentista.



Essas circunstâncias históricas não necessariamente limitam os argumentos do autor, que foi o primeiro a falar numa "cabeça bem-feita" (expressão que Morin escolheu para título de um de seus livros) como objetivo do ensino, em detrimento de uma "cabeça cheia". "Trabalhamos apenas para encher a memória, deixando o entendimento e a consciência vazias", escreveu. Saber articular conhecimentos, tirar conclusões, acostumar-se à aquisição e ao uso da informação – todas essas questões tão problematizadas pelos teóricos da educação de hoje em dia estão no cerne das preocupações de Montaigne. "Para ele, a verdadeira formação residia em saber procurar, duvidar, investigar e exercitar o que é inteiramente próprio de cada pessoa", diz Maria Cristina Theobaldo, professora da Universidade Federal de Mato Grosso.

"Que sei eu?"

O projeto intelectual do filósofo teve a finalidade de testar maneiras de pensar que escapassem do caminho da erudição e da aplicação de idéias alheias. Quando se recolheu para escrever os Ensaios, sua decisão era voltar-se para si mesmo e reconstruir a própria história por intermédio de temas escolhidos ao acaso. "Em Montaigne, o processo formativo coincide com o conhecimento de si, lançar-se nas experiências e tomar posição perante os acontecimentos da vida", informa Maria Cristina.



Ao mergulhar em assuntos tão díspares quanto a perseverança e os odores, o autor realizou investigações que misturam experiências de vida a conhecimentos adquiridos por todos os meios, dos formais (tratados e clássicos literários) aos informais (conversas, leituras ligeiras, lendas populares). A primeira pergunta é "que sei eu?", para começar com uma grande dúvida e não com uma grande certeza – nem mesmo a certeza de não saber nada. Como cronista, Montaigne invariavelmente se declara ignorante e inculto, embora seus ensaios estejam recheados de citações gregas e latinas – uma das muitas contradições propositais que os tornam tão ricos.



Leitor devoto da tradição filosófica cética, Montaigne foi partidário da idéia de que a razão por si mesma não garante a existência de nada nem sustenta argumento algum. O homem, para ele, não era o centro do universo, como queriam os renascentistas, mas um elemento ínfimo e ignorante de um todo misterioso e muito mais próximo dos animais e das plantas do que de Deus. A escrita amena e ponderada dos Ensaios muitas vezes impede que, numa primeira leitura, se perceba seu potencial demolidor – tanto que a obra só foi proibida pela Igreja mais de 80 anos após a morte do autor. Não que ele fosse ateu. Considerava-se cristão, mas não aceitava dogmas nem, sobretudo, a lógica que a religião costuma imputar aos desígnios divinos. Daí que só resta ao ser humano voltar-se para si, porque as únicas certezas que tem de antemão se referem aos limites do corpo e à inevitabilidade da morte. Sobre o mundo exterior, a melhor atitude é comportar-se sempre como um estrangeiro em seu primeiro dia numa terra estranha – pelo menos evitam-se as idéias preconcebidas e legitimadas apenas pela tradição.



Coerentemente com tais idéias, Montaigne chegou a uma concepção de ética que também difere muito das idéias estabelecidas em sua época sob a influência do platonismo e do cristianismo. Para o filósofo, os valores morais não podem ser objetivos e universais, mas dependem do sujeito e da situação em que ele se encontra

Longe dos pais e perto da vida



Para Montaigne, as crianças não devem ser educadas perto dos pais, porque sua afeição torna os filhos "demasiadamente relaxados" e isso não os prepara "para a aventura da vida". O objetivo principal da educação seria permitir à criança a formulação de julgamentos próprios sem ter que aceitar acriticamente as leituras que a escola recomenda. "No trabalho de transformar o que está nos livros em letra viva, o preceptor tem papel fundamental", diz Maria Cristina Theobaldo. A receita ideal para treinar a capacidade de análise é acostumar-se a considerar opiniões diferentes e acima de tudo conhecer culturas e experiências diversas daquelas a que o aluno se familiarizou. É o que Montaigne descreve como "atritar e polir nosso cérebro contra o de outros". O filósofo se rebelava contra a cobrança de memorização mecânica dos conteúdos ensinados aos alunos. "É prova de crueza e de indigestão regurgitar o alimento como foi engolido", escreveu. Segundo ele, as crianças devem aprender o quanto antes a filosofia, porque assim entram em contato com a necessidade de conhecer a prudência e a moderação. E também conhecer a si mesmos por meio da introspecção. O pensador relegava a segundo plano o ensino das Ciências, recomendando-o apenas aos que tivessem habilidade natural para ocupar-se dela profissionalmente. Já a História e a Literatura teriam função formadora mais ampla, inclusive do caráter.

Biografia



Michel de Montaigne nasceu em 1533 perto de Bordeaux, no sudoeste da França. Foi educado em casa e até os 6 anos só falava e entendia latim. Formou-se em Direito na Universidade de Toulouse e imediatamente ingressou na magistratura. Aos 24 anos, conheceu o escritor Étienne de la Boétie (1530-1563), com quem desenvolveu fortes laços de amizade. A morte de La Boétie causou um abalo emocional que o levou a começar a escrever. Em 1570, ele vendeu sua vaga no Parlamento (que na verdade tinha funções de tribunal) de Bordeaux, como era costume na época, e retirou-se da vida pública. Passou então a dedicar-se a escrever os Ensaios, que ele reelaborou e ampliou continuamente. Durante esse período, Montaigne alternou o recolhimento a seu castelo com idas a Paris para dar conselhos aos funcionários do reino sobre os conflitos religiosos. Em 1580, começou uma viagem de 15 meses por vários países da Europa. No ano seguinte, soube que havia sido escolhido prefeito de Bordeaux. Assumiu o cargo e manteve-o durante quatro anos. Morreu em 1592, em seu castelo, de uma inflamação nas amígdalas.

A sabedoria dos canibais

Em 1582, Nicolas Durand de Villegagnon, o líder da expedição naval que tentou fundar no Brasil a França Antártica, levou três caciques tupinambás à corte do rei Carlos IX. Montaigne estava presente e a visita originou o ensaio Dos Canibais. Em vez de manifestar horror aos costumes dos indígenas, como seria esperado de um intelectual católico, o pensador comparou-os aos europeus e concluiu que os supostos selvagens lhes eram superiores, graças à coerência com a própria cultura, à dignidade e ao senso de beleza. Os verdadeiros selvagens, segundo eles, eram os europeus, que estavam promovendo banhos de sangue não só em suas conquistas na América como nas guerras religiosas. Sobre o encontro com os tupinambás, Montaigne narra duas observações feitas pelos índios, uma sobre a estranheza que lhes causava o fato de tantos homens adultos, barbudos e armados se submeterem à autoridade de uma criança (o monarca tinha 12 anos) e outra a respeito de ter-lhes chamado a atenção que algumas pessoas na França eram visivelmente bem-alimentadas, enquanto outras mendigavam. Diz o escritor que os visitantes indagavam como os miseráveis "podiam suportar tal injustiça sem agarrar os outros pelo pescoço ou atear fogo em suas casas".

Para pensar

A escola costuma dar, com razão, muita ênfase à sociabilidade. Afinal, essa é a essência da instituição ao reunir pessoas em torno de objetivos comuns. Mas a vida humana se faz também de reflexão e introspecção. Você já pensou que é importante deixar esse caminho aberto a seus alunos mesmo num ambiente movimentado como a sala de aula?

• www.novaescola.com.br//grandes pensadores, acesso em 19 de abril de 2011




ESTÁGIO SUPERVISIONADO – PROJETOS


ALUNA: Luciandréa Camargo – 3º N.A



MICHEL DE MONTAIGNE – ATIVIDADE AVALIATIVA “8”



1 – Com referencia no texto de Michel de Montaigne, analise, reflita e responda as questões abaixo:

a) Analise a seguinte afirmação: “a verdadeira formação residia em saber procurar, duvidar, investigar e exercitar o que é inteiramente próprio de cada pessoa”



Uma real situação de aprendizagem se dá quando o aluno aprende a não receber tudo pronto, mas que saiba duvidar do que lhe é ensinado, que saiba argumentar, novas situações aguçam nossa mente e corpo, gostamos de novidades, e ficamos mais receptivos a elas, logo adquirimos mais conhecimentos, formando um “banco de dados” onde em uma nova situação possuímos mais argumentos para novos questionamentos, afinal aprender é uma constante na vida das pessoas.



b) A escola costuma dar, com razão, muita ênfase a sociabilidade, afinal essa é a essência da instituição ao reunir pessoas em torno de objetivos comuns. Mas a vida humana se faz também de reflexão e introspecção. Você, como futuro professor, já pensou que é importante deixar esse caminho aberto a seus alunos mesmo num ambiente movimentado como a sala de aula?



É fundamental respeitar os alunos em todos os âmbitos, não se pode tentar igualar alunos, cada pessoa possui um estágio de aprendizagem, cada aluno é único, não basta querer ensinar, o aluno precisa entender que é necessário aprender, e que você professor esta ali para auxiliá-lo e respeitá-lo dentro do seu tempo. Importante é levar o aluno ao entendimento de que na socialização ele pode aprender muito com o outro, mas que não necessariamente ele precise ser igual ao outro.



c) “Interiorizar-se, duvidar e entrar em contato com outros costumes e pontos de vista são as recomendações do filósofo Frances para uma boa formação”. Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta:



Somos produto do que nos cerca, quanto mais experiências tivermos, quanto mais acesso a conhecimentos nos for incutido, quanto mais pontos de vistas diferenciados acompanharmos, mais aprendemos e entendemos que uma verdade pode ser questionada, podemos interiorizar diversas informações que nos são passadas, fazer o conflito das mesmas com nosso próprio pensar, ou seja, naquilo que acreditamos e assim nos posicionarmos, posicionamento na vida, na escola, na família, na criação dos filhos, na escolha dos governantes, etc.

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